O ano de 2020 foi um período que trouxe fortes e importantes mensagens, sinais e convites. Há uma importante diferença entre ler e interpretar um fato, notícia, texto, cenário ou um ano. Muitos apenas leram as notícias em 2020, o que pode tê-los deixado com medo, inseguros, física e emocionalmente mais fracos. Eu corro o risco de dizer que, para um grande número de pessoas, este ano apenas intensificou o como a pessoa estava e se sentia em anos anteriores, tendo consciência disto, ou não.
Outras pessoas não leram; interpretaram os acontecimentos deste ano, e enxergaram com maior transparência os sinais da vida, utilizando este tempo – sem fechar os olhos para os perigos, perdas e dificuldades – de maneira positiva, como uma abençoada fase para tomar decisões, reavaliar relações, definir com maior precisão o que desejam na vida e o que fazer no futuro. Estas pessoas provavelmente estão terminando o ano mais calmas, com uma maior aceitação e entendimento dos acontecimentos e aprendizados. Bem como mais otimistas e positivamente ansiosas para colocar em prática tudo o que pensaram, definiram e planejaram em 2020. Também arrisco dizer que estas pessoas já tinham a semente do otimismo, da perspectiva positiva da vida e do futuro almejado, antes do início da quarentena.
Este ano trouxe, pelo correio, novos óculos, com o grau exato para cada um, para que muitos de nós pudéssemos olhar com maior nitidez a nós próprios e tudo e todos à volta. Tirar os óculos da caixa, colocá-los e abrir os olhos, foi uma decisão de cada um. Para uns, uma ameaça pavorosa, enquanto, para outros, uma oportunidade singular.
O isolamento, para uns, foi uma prisão, e pior: em uma cela apertada na companhia de quem sempre fugiram, de si mesmos. Para outros, foi o encontro que perseguiam há anos, o início da libertação de quem sempre acreditaram e queriam ser, a pessoa que, de alguma forma, sentiam que eram.
Para muitos, o isolamento foi uma tortura excruciante, do começo da quarentena até o momento presente. Certamente, para alguns já era, antes mesmo do início deste ano, e quem sabe continue após o fim da pandemia. Para outros, foi uma feliz e fértil fase – mesmo com momentos nebulosos, amedrontadores e incertos – para colher respostas a respeito do que possui valor ou não, o que tem funcionado ou não, o que se deseja para o futuro, ou não.
É no silêncio dos nossos pensamentos que nos encontramos, e nos conhecemos. Mas, antes, é necessário querer se encontrar, e principalmente fechar os olhos para enxergar a si mesmo, assim como ouvir a voz dos próprios pensamentos. O ano de 2020 foi um ano que favoreceu muito o recolhimento, a introspecção e para que cada um ficasse muito mais próximo da própria essência, com um contato íntimo com o próprio estado emocional, na sua real medida que é. Para muitos, 2020 foi muito mais um ano de revelações, do que de revoluções.
Conhecer-se gera responsabilidade. Olhar para dentro e encontrar os erros do passado pode gerar em curto prazo uma dor muito maior do que a ignorância e a ilusão de viver uma vida em desarmonia com quem é, e com as pessoas à sua volta. Porém, a conta de uma vida incongruente, desalinhada com quem se é e também com as pessoas à sua volta, um dia chega. O tempo só fará com o que o preço a ser pago aumente. John Lennon uma vez disse: “A ignorância é uma espécie de bênção. Se você não sabe, não existe dor.” – eu apenas adicionaria que, para o crescimento, a dor pode ser o pedágio a ser pago.
Quando alguém chega a mim e pergunta: Como faço para descobrir minha missão de vida? Eu respondo com uma outra pergunta: Quem é você? A profundidade da resposta estará diretamente relacionada ao quanto a pessoa se conhece. A qualidade no uso da resposta estará rigorosamente associada ao quanto a pessoa aceita quem é. A felicidade na jornada terá uma ligação direta com o quanto a pessoa ama quem é.
Nascemos para devolver ao mundo o que temos de melhor, com respeito e harmonia com quem nos relacionamos, sociedade e natureza. Você quer saber para onde ir em 2021? Comece mergulhando em quem é você, o mais profundo que conseguir. Quando o silêncio for soberano, você começará a escutar as respostas, e o seu caminho aparecerá.